Contos e Crônicas

12:57:00

A História da Menina que Amava 

Escrita por: Gisele Santos
Não sei se é boa ou ruim, se vale ou não à pena contar, mas o fato é que gostei da história. Gostei da menina, simplesmente, me veio na mente, e resolvi escrever sua trajetória, para que todos conheçam a menina que amava. Era uma menina comum, com 15 ou 16 anos, talvez mais, talvez menos. Como toda garota era sonhadora, vivia fazendo planos, adorava viver no mundo da lua, alheia a hipocrisia e a maldade que acontecia todos os dias e era retratado na televisão. Tinha suas crenças, acreditava em anjos, em mágicas, em finais felizes, e principalmente, acreditava no amor. E acreditava tão fielmente, que quem a via falar sobre qualquer um desses assuntos, por mais racional que fosse, passava a acreditar também. Ela acreditava no amor, mas não o conhecia. Órfã, tinha aprendido a se virar desde cedo, nunca teve ninguém por ela, nunca conheceu sua família, vivia sozinha, não tinha amigos porque tinha um mundo só dela, e era lá que ela gostava de viver, mas mesmo não tendo ninguém, ela amava. Como não tinha pessoas, ela amava coisas, amava o calor do sol nos dias de verão, a chuva que vinha como um presente para ela, que quando se molhava, sentia-se viva. Amava a lua, que iluminava as noites mais escuras de sua vida, e lhe deixava ver e sonhar com as estrelas. Até que ela conheceu alguém. Sim, alguém de verdade, de carne e osso como ela. Um rapaz, bastou uma primeira olhada entre os dois, e tudo aconteceu. Como sempre, no começo tudo é festa, tudo é lindo, tudo é bom. Mas vale lembrar que o cara era um idiota, incapaz de amar qualquer coisa que seja, muito menos uma pessoa. Brincou com os sentimentos dela, e ela, que estava inundada de amor, se afogou. O sonho acabou, ela conheceu o lado bom e ruim do amor. Mal tratada, deslocada, mal compreendida, o mundo dela desabou. Então ela olhou pro céu. Era uma tarde fria e cinzenta, o céu estava lá, como sempre, mas não era azul dessa vez. Ela estava cansada, havia chorado, havia deitado. Doía ser deixada, doía amar e não ser amada. Estava cansada de tentar, então, ela quis desistir. Se é fraqueza ou coragem, eu não sei. No começo, ela achava que as coisas eram belas, depois foi vendo que não era bem daquele jeito, mas continuava a repetir pra si mesma que não estava assim, tão mal. Quantas vezes ela exercitou sua paciência... Quantas vezes deu vontade de jogar tudo pro alto, mas ela aguentava firme. Agora nada mais importava, ela havia se cansado. Hora de apelar para a saída de emergência. E então ela decidiu, ia terminar com tudo de vez. Ali acabava o sofrimento, o ódio, a dor e o amor. Escolheu como queria que fosse seu fim, ela estava a alguns minutos parada com o copo de veneno nas mãos, ela pensava, apenas um gole, e então a paz. Sem a menor pressa, tudo fora meramente calculado. Ela havia errado, ele havia errado. Mas ali estava a redenção. E assim ela se foi. Mas ela estava enganada, e as coisas não melhoraram, a dor que doía apenas aumentou, a saudade que insistia, ficou mais insistente. No momento em que virou o copo, ela havia se matado, e matado os heróis que havia construído em sua mente. Ela achava que não tinha mais nenhuma lição a aprender, e agora eles a atormentavam, julgavam-na, lembravam-na que ela havia sido fraca. Seus pensamentos e atitudes eram contraditórios, nada mais fazia sentido. Ela só queria se perder, fingir que não precisava do mundo dela. Mas as memórias viraram fantasmas, e eles gritavam o que ela já não queria mais ouvir. Então ela jurou que iria encontrar o rapaz, a causa de tanto tormento e sofrimento. E ela jurou que ele a pagaria, por cada vez que dera um passo à frente sem a sua companhia. Ela estava louca, mas o amor ainda a corroía. Ela só queria ser amada na mesma intensidade em que amava. Mas aquilo parecia ser impossível. Passava horas trancada olhando pro nada, passava dias deitada, sem comer. Apenas as lembranças eram suas companheiras. E isso a deixava cada vez mais atordoada. Até que um dia, caminhando distraída, ela encontra um objeto. Do qual ela nem se lembrava mais. E ali, naquele objeto, ela conheceu uma menina. Parecida com ela, não. Parecida com o que ela era. Naquele objeto morava uma menina linda, como ela era quando era apenas uma adolescente sonhadora. A menina lhe sorria, seus olhos brilhavam. Há tempos ela não via retrato tão perfeito da felicidade. Há tempos, tudo o que ela via era triste e angustiante, e a deixava com vontade de chorar. E pela primeira vez desde que tudo havia acabado, ela sentiu vontade de sorrir. Ela olhava a menina do espelho, e sentia uma vontade incontrolável de sorrir, então ela riu. Riu até a barriga doer, com sua nova amiga, que ria de volta. Por aquela menina ela se apaixonou. Lá estava o amor nascendo dentro dela novamente. A menina silenciosa, que a olhava com ternura e sempre sorridente a encantava. Cada vez que ela a olhava, se apaixonava mais. E a menina virou sua confidente, ela contava tudo para a menina, ela adorava a menina, e a menina já fazia parte dela. Foi preciso muito sofrimento para que ela visse o quanto errou ao tirar sua vida, sofreu mais ainda com as lembranças de um amor que não era bem real, ela achava que amava, mas na verdade era só encantamento. Mas quando ela achou o espelho, ela não viu o reflexo de como ela estava naquele momento, ela viu seu reflexo no passado, quando ela era feliz, quando ela amava verdadeiramente, sem motivo e sem razão, apenas amava porque amava. Ela percebeu que o garoto fora apenas ilusão, ela não o amava. Ela amava o sol, a chuva, a lua. E amava a ela. Sim, acima de tudo ela se amava, e queria e merecia ser feliz. Num espelho ela reencontrou o amor, reencontrou a criança perdida dentro dela, e reencontrou seus sonhos e seu mundo. Descobriu que não havia perdido nada, tudo ainda estava dentro dela, ela apenas tinha se esquecido de busca-los em si. E quando os encontrou, ela voltou a ser a adolescente, a menina que amava. Voltou a ser o que era, a ter o que tinha. Infelizmente não sei contar o que aconteceu com a menina que amava. Não sei se ela encontrou outra pessoa pra amar ou se continuou solitária. Só sei que ela se amava, e quando ela se olhava no espelho, não sei dizer, mas sorriso mais lindo não havia. A história eu termino aqui, sem um final concreto, assim como a vida. Nada é certo e o futuro é subjetivo. Assim finalizo a história sem fim da menina que amava. 

Beijinhos Gordos da Thya

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